Motorista pode pagar por qualidade e receber produto alterado, que causa
problemas mecânicos no veículo
De repente, o
ponteiro do tanque de combustível começa a descer mais rápido que o normal e o
carro não parecer ter o mesmo desempenho. Cuidado, isso pode significar que o
abastecimento foi feito com gasolina adulterada. O termo é usado para
classificar o combustível fora do padrão de venda, determinado por lei. Além de
notar problemas mecânicos, o motorista sente a diferença também no bolso,
afinal, pagou por um produto de qualidade e foi enganado. Entender o caminho
que o combustível faz até chegar ao posto pode esclarecer os motivos da prática
de adulteração.
Para começar, distribuidoras
credenciadas compram na refinaria a gasolina pura, denominada tipo A, e
são responsáveis por adicionar 25% de álcool anidro antes de repassar para a
revenda. A gasolina disponível da bomba de combustível é a tipo C, composta por
75% de gasolina e 25% de álcool anidro.
A adulteração, portanto, pode ser a adição de maior porcentagem de
álcool do que a permitida. Como o álcool sempre foi mais barato que a gasolina,
o lucro da revenda será maior. O presidente da Sulpetro do Rio Grande do Sul,
Adão Oliveira, garante que a prática tem interesse exclusivamente financeiro.
“Aumentar a porcentagem de álcool é aumentar o ganho com a venda. Com isso, o
posto honesto não consegue acompanhar a concorrência”, comenta.
Segundo Oliveira, no centro do
país é possível encontrar gasolina adulterada com até 40% de álcool. Outro
elemento usado para alterar a composição é o solvente de borracha. Mesmo mais
caro que o álcool, ainda é mais barato que a gasolina e também reduz o preço
inicial do combustível que acaba sendo vendido pelo preço geral dos postos.
As adulterações em geral são prejudiciais ao motor do carro. O
solvente, por exemplo, pode ressecar as peças de borracha. Já o álcool não traz
danos tão visíveis, influenciando mais no consumo de combustível. “O veículo
‘puxa’ menos gasolina para o motor e gasta mais, fazendo o carro sentir no
desempenho. Carros importados, que não têm motor flex, perdem muito com a
gasolina adulterada”, diz Oliveira.
chamados carros flex, cujos
motores funcionam tanto com álcool quanto com gasolina, não sofrem com
problemas mecânicos. Nesse caso, a perda para o motorista é financeira, já que
paga por um produto de qualidade quando, na verdade, abastece o carro com
combustível adulterado.
O Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e
de Lubrificantes lembra ainda dos riscos para a saúde dos motoristas, dos
frentistas e das pessoas em geral. O combustível adulterado produz mais
resíduos, mais poluição, e alguns desses produtos clandestinos são até mesmo
agentes cancerígenos.
sonegação de impostos também é
uma preocupação do setor. De acordo com Oliveira, o ICMS está fixado em 25% do
produto, o que significaria, em média, R$ 0,58/litro de álcool e R$ 0,67/litro
de gasolina. “Se há a sonegação, o revendedor ganha mais dinheiro e se torna um
concorrente desleal, com preços abaixo do mercado”, explica.
O Sindicato dos Postos de Combustível do Rio Grande do Sul tem
2600 postos cadastrados. Para o cliente, é difícil de identificar se a gasolina
está mesmo adulterada. A determinação é de que o revendedor compre o
combustível de distribuidoras fixas e faça o teste do produto, com o material
cedido pela Sulpetro, antes de descarregar para os reservatórios. Caso o local
aceite combustível alterado, assume as responsabilidades pela distribuição.
A fim de evitar a irregularidade, a fiscalização é constante. O
trabalho evita que o percentual de postos contrários à regra cresça e se
aproxime do número do centro do país. O Comitê Sulbrasileiro do Controle de
Qualidade também auxilia junto aos estabelecimentos.
recomendação de Oliveira para o
motorista é de abastecer sempre em postos de confiança. “Estabelecimentos
menores, chamados de bandeira branca, também merecem crédito. Muitas vezes, os
postos grandes é que visam mais lucro e vendem produto irregular”, comenta.
Outra dica é não se iludir com preços muito abaixo da tabela, observando a
média cobrada em outros postos da região.
Caso o cliente verifique a venda de gasolina adulterada, deve
denunciar para a Agência Nacional do Petróleo (ANP) através do telefone
0800-970-0267. Cada posto tem uma placa com suas identificações, necessárias
para a reclamação. A ANP verifica a queixa e, se for necessário, pune o posto,
que pode perder seu registro.
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